O Dia Internacional da Saúde Mental comemora-se a 10 de outubro e esta data pretende destacar os desafios no combate às doenças do foro mental, bem como desmistificar algumas das crenças associadas às mesmas.

Sublinha-se ainda a necessidade de reconhecer os sinais deste tipo de doenças e de procurar ajuda especializada.

Esta é uma temática cada vez mais frequente também no Futebol, onde estes indícios atingiram níveis preocupantes. Segundo um estudo da FIFPro, cerca de 38% dos jogadores no ativo já sentiram sintomas de depressão, sublinhando a necessidade urgente de sensibilização e apoio nesta área. Sendo a a carreira de um futebolista profissional vivida sob alta pressão, constantemente sujeita ao escrutínio público e mediático, os jogadores são particularmente vulneráveis a problemas de saúde mental, que, ao contrário do desejado, muitas vezes não recebem o mesmo tratamento ou são vistas com a mesma importância que as lesões físicas.

Porque é que os Jogadores de Futebol são um grupo vulnerável?

Os futebolistas profissionais enfrentam durante a carreira desafios únicos que os tornam mais suscetíveis a dificuldades emocionais e psicológicas. A pressão para ter um bom desempenho, lidar com as expectativas do público e gerir uma carreira curta e imprevisível são fatores que podem gerar grande tensão. Muitos jogadores exibem sentimentos de isolamento, especialmente quando têm de se adaptar a novos ambientes ou lidar com mudanças, como uma nova equipa técnica ou a transferência para outro clube.

Além disso, o fim da carreira, que tanto pode acontecer, por várias razões, em idade mais juvenil como em idades mais avançadas, pode causar sentimentos de frustração, perda de identidade e até raiva, à medida que os jogadores lutam para se ajustar à vida depois do futebol.

Cenários Comuns que Afetam a Saúde Mental

1. Mudança e Ansiedade
   O futebol é um desporto dinâmico, e as mudanças de equipa, treinador ou clube podem causar ansiedade. Os jogadores podem sentir-se inseguros quanto ao seu lugar na equipa ou temer o fracasso. A pressão para mostrar resultados pode resultar em:
• Fadiga e desmotivação;
• Sentimentos de medo ou receio;
• Perda de apetite, insónias;
• Ataques de pânico ou perturbações de ansiedade.
2. Contratos
   As constantes mudanças de clube e os contratos de curta duração podem ser também uma fonte de grande stress. A negociação de contratos, a necessidade de mudar de cidade com a família, ou o surgimento de jogadores mais jovens a competir por lugares podem criar uma pressão intensa. Isto pode manifestar-se através de:
• Ataques de pânico;
• Sintomas físicos como doenças cardíacas ou enxaquecas;
• Ansiedade prolongada e depressão.
3. Pressão de Desempenho
   Os jogadores sentem muitas vezes o peso de manter um desempenho elevado, com cada jogo mau a ser amplamente escrutinado pelos adeptos e pela comunicação social. O medo constante de falhar pode ser debilitante, afetando não só o jogo, mas também o bem-estar geral. Os sintomas podem incluir:
• Pânico e medo de fracasso;
• Diminuição do desempenho;
• Alterações de humor e preocupação constante.
4. Reforma e Perda de Identidade
   Para muitos jogadores, a transição da vida de atleta para a reforma pode ser uma fase turbulenta. Muitos sentem uma profunda sensação de perda, já que a sua identidade esteve sempre associada à carreira. Isto pode levar a comportamentos destrutivos, como:
• Abuso de substâncias ou dependências;
• Problemas nas relações pessoais;
• Baixa autoestima e depressão.

Como Reconhecer os Sintomas de Saúde Mental nos Jogadores

É fundamental que os jogadores, equipas e a comunidade futebolística em geral consigam reconhecer os sinais de problemas de saúde mental. Estes podem incluir:

• Fadiga persistente, falta de motivação;
• Dificuldade em dormir ou concentrar-se;
• Isolamento dos amigos e familiares;
• Sintomas físicos como dores de cabeça ou problemas digestivos;
• Comportamentos nocivos, como o abuso de substâncias.

Abordar a Saúde Mental no Futebol

A sensibilização e a gestão proativa da saúde mental são tão importantes quanto o tratamento de lesões físicas. A FIFPro lançou um Projeto Piloto de Saúde Mental para desenvolver recursos e processos que apoiem o bem-estar mental no futebol. Federações nacionais e sindicatos de jogadores como a PFA, no Reino Unido, o Sindicato dos Jogadores, em Portugal, ou a Asociación de Futbolistas Españoles, em Espanha, entre outras, estão a trabalhar para oferecer serviços de apoio mental adaptados às necessidades dos jogadores. Com isto, pretende-se:

• Criar consciencialização: Educar jogadores, treinadores e staff sobre saúde mental pode ajudar a normalizar o pedido de ajuda e reduzir o estigma.
• Disponibilizar sistemas de apoio: Recursos acessíveis, como linhas de apoio e terapia, devem estar prontamente disponíveis.
• Incentivar a intervenção precoce: Quanto mais cedo os problemas de saúde mental forem identificados e abordados, melhores serão os resultados.

Canais de Apoio

Os futebolistas, tanto em atividade como reformados, não estão sozinhos nestes desafios. Existem várias organizações que oferecem apoio confidencial. Se precisa de ajuda, ou conhece alguém que necessita de apoio, contacte a sua Federação ou Sindicato de Jogadores nacional. Em último caso, pode escolher contactar a FIFPro.

A saúde mental é um tema urgente no futebol e o seu tratamento exige um esforço conjunto de jogadores, clubes e organizações. Se és, ou conheces, um jogador a lutar contra ansiedade, stress ou com o impacto emocional da reforma, pedir ajuda é o primeiro passo para uma vida mais saudável e equilibrada.